quarta-feira, 25 de maio de 2011

O Hurricane

Girando em meio a poeira, o vento é meu corpo
de vento é meu torso, poeira são minhas células
Vagando em espiral sem freios, a consumir microdistancias
levando-as para o centro de minha ansia

Dominante no deserto eu sou início e fim
Senhor das tempestades e temido pelos maias
A epopéia mitológica não conta como nasci:
Dizem que sou filho do diabo, dizem que sou filho de saci

No rodopio das ansias infindas, a preencher minha matéria aérea
encontra-se meu olho-alma, vazio de forma etéria
Tempestes e solidão estão em meus genes, esta é minha sina
Sempre cabeça no céu e pés no chão.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

O Aluvião

A água se empossava em meus pés, equanto eu caminhava sobre a terra-chão
areia, cascalho e alguns dejetos estranhos, entranhados nas unhas e dedos:
Eu era um aluvião

Serpenteando o rio vazio apenas eu e a erosão
uma jaracuçu se esguiava assustada, fugindo da minha direção
Enquanto a fumaça do mato queimado era o que restava da boa plantação

O urubu me encarava sob a carcaça do boi morto, reconhecendo a competição
entre nós o cheiro da carne apodrecida a céu aberto,
igual miragem no deserto,
 era pura alucinação

O caminho do rio sem alma
 mais seco a cada sol ficava
mais morto a cada passo que eu dava
Sob meus pés então abriu-se um poço
que me engolia até o pescoço
me retorcendo cada osso

Mas a dor é algo que desconheço,
logo ao fundo do poço eu desço
lá só havia escuridão, só existia a saudade
dos tempos de homem-aluvião.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Vento na cidade

Então tomei daquele amargo vinho,
desistir não era uma opção.
Após dias e diferentes sóis, eu era o vento
e com a areia eu voava arrastado
seco como o vinho, seco como um pedregulho.
Mergulhado nas ruas, pensamento tempestivo
um poste piscava na alameda
A claridade jogava luz em vitrines abandonadas,
refletindo meu fantasma, refratando meu passado
uma sombra, uma mancha, uma folha seca.
Em companhia da fuligem urbana,
meu sapato era a terra, o meu sonho era a terra
meu caminho era de reboco.
Um clarão azul apontou no céu, eu soprava a ultima fumaça:
Acabou o intervalo, a tempestade me esperava.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Sobre os violinos

Violinos são andorinhas, asa leve
No mar da sinfonia, vôo flutuante

Violinos são corujas, sorrateiros
Na escura sintonia do acaso, agudo silêncio certeiro

Violinos são gélidas azaléias, os russos bem sabem
Da terra branca, das almas em fria melodia

Violinos são absinto, la fée verte
Delírio viciante: esquentam o espírito, esfriam o coração.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Meu sorriso é uma tinta

Meu sorriso é uma tinta,
uma tinta amarela
Meus olhos marrom-escarlate, fúria em terra

Enquanto caminho, meu semblante cinza
rompe a cidadela

Minh'alma é um blues, na forma de aquarela
Dissolvendo o meu sorriso, em meio aos tons da tela


5/04/2011

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Invictus

Invictus

Autor: William E. Henley

Do fundo desta noite que persiste
A me envolver em breu - eterno e espesso,
A qualquer deus - se algum acaso existe,
Por mi’alma insubjugável agradeço.

Nas garras do destino e seus estragos,
Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Nunca me lamentei - e ainda trago
Minha cabeça - embora em sangue - ereta.

Além deste oceano de lamúria,
Somente o Horror das trevas se divisa;
Porém o tempo, a consumir-se em fúria,
Não me amedronta, nem me martiriza.

Não importa quão estreita seja a senda
Quão pesada a mão que o mundo me espalma;
Eu sou o senhor de meu destino;
Eu sou o capitão de minha alma.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Homem de lata

Homem de lata, homem de gelo
de poeira e vento

Homem de ferrugem, oxidação ambulante
corrosão mutante, no vazio cardiaco..

Homem do frio, da sobrevivencia
oleo na engrenagem e na cabeça: reticência(s)

Homem sem sonho, homem sem esperança
em meio da dança, só pó e fuligem

Homem estilhaço, sem software avançado
lixo, produto ultrapassado

E ano após ano, vagando em meio aos restos
ferros velhos e dejetos, mendigando no lixão
alguma peça sobressalente

Defeito de fábrica: esqueceram do coração

quinta-feira, 10 de março de 2011

Psicologia de um desempregado

Então você olha as horas, escuta as pessoas saindo cedo, vira para o lado e dorme... Depois de escutar muito barulho pela casa, feitos propositalmente para que você lenvante... você levanta, vai ao banheiro lava o rosto. Semblante baixo, olho baixo, você olha para baixo e vê sua auto-estima lá. Olha a caixa de e-mail esperando algum retorno de todas as empresas que você mandou currículo, que você fez algum teste...''ultima esperança'' você pensa, ultima, mas não imortal. E a agonia lhe persegue durante todo o dia, você vê todos voltando para casa, almoçando e novamente saindo... enquanto você.. bem, ''você pode cuidar dos cachorros pra mim né?''.
''Como conseguir aguentar ser desempregado em um mundo onde se cresce com a idéia de que o trabalho dignifica o homem''? Como suportar a angustia de ver a vida de todos girando se movimentando em quanto a sua, se restringe em esperar uma ligação, um e-mail... em ir de lugar em lugar oferecendo seus serviços acrescido de alguns anos de estudo, algum idioma, alguma experiencia profissional, algum talento com sede de ser alimentado... sede que aumenta, que tortura.. que te faz cavar por um abismo de ansia e angustia? Sede que vai te ressecando por dentro, eliminando todo resquício de água, amor próprio e estima a sí mesmo... Sede que te faz abaixar a cabeça, que te silencia aos poucos, te faz desviar o olhar, lhe tira o sono, lhe tira a fome.
Quando anoitece chega sua companheira insonia, outra catalizadora da angustia. E não importa para que lado você vire, não importa o travesseiro tapando os ouvidos não te faz parar de escutar os mesmos fantasmas que sopram os mesmo pensamentos de todo o dia, e por mais que isso se repita, você não se acostuma. Liga o seu rádio e espera... os primeiros raios de sol aparecem e sim, ''lá vem o sol novamente'' e outro dia... o sono parece estar perto. Então você olha as horas, escutas as pessoas saindo...
E quando chegam os finais de semana e feriado, a rotina é a mesma. Pelo menos você não vai escutar as pessoas saindo para trabalhar logo cedo. E você se lembra de quando saia para tomar uma cerveja, viajava... ou qualquer outra coisa 'para eliminar o stress e o cansaço mental e físico da rotina de trabalho' durante a semana..''nostalgia'' .. E como aliviar o stress e o cansaço mental e emocional de ficar dia após dia, na angustia e agonia de um emprego que não chega, que não aparece, que foge de você, que te negam, que te rejeitam... (que te negam!) Como fugir disso, sem a unidade monetária necessária na troca de valores e serviços? Você então se lembra daquele professor marxista, que lhe ensinou que dinheiro é uma unidade monetária que representa trabalho.. trabalho: o que você não tem.
Ao se manter assim, 'parado', enquanto o mundo 'gira' e todos produzem, trabalham, e gastam (elementos que fazem o tic tac do grande relógio do capitalismo), você fica de fora do relógio, mas isso não significa que o tempo não passe para você, pelo contrário. Dentro desse mesmo contexto do capitalismo, onde trabalhar e consumir são a regra, embora a regra não seja lógica, você acaba sendo definido pelo que você faz e ao mesmo tempo pelo que você consome. Não se engane, ''quem sou eu'' foi abolido do orkut não é atoa. Quando você vai conhecer alguém é sempre ''sou fulano, sou jornalista'' ''ele é vendedor'' ...quando sua namorada vai te apresentar a sua família: ''ele trabalha em tal lugar''. É 'a empresa como nação! criando indentidades'. Então você percebe que é um sem nação e sem identidade! Como num poema bukowskiniano ''este é o filme mais desgraçado que você já viu -porque você esta nele- cachê baixo e 4 bilhões de críticos e o periodo mais longo de exibição que você já desejou é de um dia'' Mas não tem cachê... e ele se repete por todos os dias...