Deixo um recado
a todos vocês
cujos rostos
desconheço
mas me acompanham
com suas luzes
que me apontam
com suas sombras
que me mancam
Pergunto: se eu virasse
à direita
na esquina
daquela árvore vazia
pergunto se minha acerola
ainda daria
vermelha e azeda
na sombra do cajueiro
que rompe o pé da serra
pergunto porque sei que a terra não seca
por amargura
mas as barrancas da minha língua adormeceram
por falta de doçura
pergunto se eu ainda
deveria carregar
tanto brilho nos olhos
ou se deveria deixá-los
cair
gota a gota
porque a noite é escura
e faltam abrigos
a todos sonhos que carrego comigo
e ao derramar
cada um deles
sobre meus pés
sobre a terra
crua e sem cor
ao menos aliviaria
tudo o que ressecou
e quem sabe
por graça
por misericórdia
por mistério
ou mesmo por pena
me abrissem os céus
para a estrela
onde vive a Jurema
pergunto a vocês
cujos rostos eu não vejo
com mãos que me seguram
com braços que me acalentam
pergunto
se algum dia
meus lamentos
verterão arco iris
no fim desse tunel sem fundo
nalguma das tais
voltas do mundo
algum dia
pergunto porque aqui moro
sem morada
pergunto porque amo
distante da amada
pergunto a voces
porque sei
que a alma é tudo
mas eu
eu não sei nada
pergunto
para driblar o desengano
pergunto
pois na minha dúvida
carrego meu encanto
pois eu sou
"apenas um rapaz
latino americano
apoiado por mais
de cinquenta mil manos"
11/11/20