segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Ode à insonia

Parei de tomar remédios pra dormir
Não quero mais
viver correndo 
atras de você
pelas esquinas 
dos meus sonhos
Atravesso as margens
mergulho em assombros
me escondo
quando vejo seu rosto
brilhando aqui dentro
Me cansei desses momentos
Em que você passa
e me desola
nem em sonho
eu ganho a esmola
de um sorriso

E mesmo se ganho
acordo encolhido
ensopado
choro suado
com olhar aprisionado
e a mente carcereira
arrancando
minhas tripascoração

Cansei dessa peleja
seu veneno se esgueirando
em minha veia sertaneja
Tem dias que acho
que irei morrer intoxicado
cego pelo brilho
que você deixou
por todo lado
dos meus sonhos
e nunca mais
voltou pra buscar

Então se
no meio da noite
você acordar
com um grito de dor
saiba que meu pesadelo
te manda um alô

Quem tem salto de cristal

Tanta consciência por aí
sem ciência de si
Eu com meu falo
já não digo nada
N'onde toda palavra
é carta marcada
o jogo de máscaras
é arma dura
e nem com dez mil tambores
se faz tremer essa estrutura
de espaços à fala
e silêncio ao tempo
Cada um quer ser
senhor do momento
Até a Cinderela
pulou o teto de vidro
com um salto
de cristal
marchou pelo asfalto
com o pato da duquesa
tirou selfie
cosplay de camponesa
E o bloco que colocaram na avenida
tinha tanta purpurina
brilhando cnem os canais de Veneza
e sua correnteza
de urina

Foi numa dessas
que vim pensar
e deixei a boca aberta
malz ae
macho não pode vê
um banheiro

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Anjo torto

Amor,
Sei muito bem
de onde seu medo vem:
do asco das profundezas do mundo
das ações egofálicas
de um homem do saco sem fundo
Mas amor,
não te inquiete
minhas mãos
só te serão prece
e meu diabo
apenas te possui
com sua permissão
É que meu fogo de serafim
só se atiça
com o gemido sassaricado
do pecado entranhado
na cadência derretida
de seu sisisi-sim
E só parte enfim
descendo ladeira
pela curva da geladeira
do seu não
Então
me de sua boca
e me permita mergulhar
na clareza de suas palavras
para que elas me penetrem
e despertem
o anjo sem asas
que saiu do útero
e caiu na brasa
com o coração na cabeça
e o pau na mão

O não dito pelo poeta, é maldito

Não,
Não me toque com sua mão
de pele fina
e negros pelos
pois meus nervos
estão
expostos pelo chão
já não se fazem inteiros que preste
plenos absolutos celestes
Não
Não me pese
com essa balança
de sábias medidas
intrínsecas no peito
pois minhas feridas
não valem um grama pra 3
de seu respeito
Não me olhes
como quem mergulha
com frenési num oásis
de sacagem
Não sou nada além
de vil miragem
a te afogar
em minhas areias
E se acaso caia
aqui dentro
na rua de minha casa
mal assombrada
cuidarei pra que esteja
sempre molhada
Para que os demônios íntimos
que habitam a encruzilhada
da consoante do meu não
Te levem à boca
apimentada e salteada
Enquanto tocam o sino
que te mantem aprisionada
entre a língua e o canino
Pra que todos saibam
que não se diz
Não
ao não
dos bichos sem afeto
nem pudor no coração