Eu queria poder escrever
algo que fosse como uma faca
Escrevo para dar forma ao caos que me habita, escrevo para mudar a forma do caos que eu habito, enquanto o meu habitar dá forma ao caos que me escreve.
Eu queria poder escrever
algo que fosse como uma faca
Amor,
Sei muito bem
de onde seu medo vem:
do asco das profundezas do mundo
das ações egofálicas
de um homem do saco sem fundo
Mas amor, não te inquiete
minhas mãos só te serão prece
e meu diabo apenas
te possui com sua permissão
É que meu fogo de serafim
só se atiça
com o gemido sassaricado do pecado entranhado
na cadência derretida de seu sisisi-sim
E só parte enfim
descendo ladeira
pela curva da geladeira do seu não
Então me dê sua boca
e me permita mergulhar
no sabor de suas palavras
para que elas me penetrem
e despertem o anjo sem asa
que saiu do útero
e caiu na brasa com
o coração na cabeça e o pau na mão