quinta-feira, 28 de abril de 2011

O Aluvião

A água se empossava em meus pés, equanto eu caminhava sobre a terra-chão
areia, cascalho e alguns dejetos estranhos, entranhados nas unhas e dedos:
Eu era um aluvião

Serpenteando o rio vazio apenas eu e a erosão
uma jaracuçu se esguiava assustada, fugindo da minha direção
Enquanto a fumaça do mato queimado era o que restava da boa plantação

O urubu me encarava sob a carcaça do boi morto, reconhecendo a competição
entre nós o cheiro da carne apodrecida a céu aberto,
igual miragem no deserto,
 era pura alucinação

O caminho do rio sem alma
 mais seco a cada sol ficava
mais morto a cada passo que eu dava
Sob meus pés então abriu-se um poço
que me engolia até o pescoço
me retorcendo cada osso

Mas a dor é algo que desconheço,
logo ao fundo do poço eu desço
lá só havia escuridão, só existia a saudade
dos tempos de homem-aluvião.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Vento na cidade

Então tomei daquele amargo vinho,
desistir não era uma opção.
Após dias e diferentes sóis, eu era o vento
e com a areia eu voava arrastado
seco como o vinho, seco como um pedregulho.
Mergulhado nas ruas, pensamento tempestivo
um poste piscava na alameda
A claridade jogava luz em vitrines abandonadas,
refletindo meu fantasma, refratando meu passado
uma sombra, uma mancha, uma folha seca.
Em companhia da fuligem urbana,
meu sapato era a terra, o meu sonho era a terra
meu caminho era de reboco.
Um clarão azul apontou no céu, eu soprava a ultima fumaça:
Acabou o intervalo, a tempestade me esperava.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Sobre os violinos

Violinos são andorinhas, asa leve
No mar da sinfonia, vôo flutuante

Violinos são corujas, sorrateiros
Na escura sintonia do acaso, agudo silêncio certeiro

Violinos são gélidas azaléias, os russos bem sabem
Da terra branca, das almas em fria melodia

Violinos são absinto, la fée verte
Delírio viciante: esquentam o espírito, esfriam o coração.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Meu sorriso é uma tinta

Meu sorriso é uma tinta,
uma tinta amarela
Meus olhos marrom-escarlate, fúria em terra

Enquanto caminho, meu semblante cinza
rompe a cidadela

Minh'alma é um blues, na forma de aquarela
Dissolvendo o meu sorriso, em meio aos tons da tela


5/04/2011

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Invictus

Invictus

Autor: William E. Henley

Do fundo desta noite que persiste
A me envolver em breu - eterno e espesso,
A qualquer deus - se algum acaso existe,
Por mi’alma insubjugável agradeço.

Nas garras do destino e seus estragos,
Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Nunca me lamentei - e ainda trago
Minha cabeça - embora em sangue - ereta.

Além deste oceano de lamúria,
Somente o Horror das trevas se divisa;
Porém o tempo, a consumir-se em fúria,
Não me amedronta, nem me martiriza.

Não importa quão estreita seja a senda
Quão pesada a mão que o mundo me espalma;
Eu sou o senhor de meu destino;
Eu sou o capitão de minha alma.