areia, cascalho e alguns dejetos estranhos, entranhados nas unhas e dedos:
Eu era um aluvião
Serpenteando o rio vazio apenas eu e a erosão
uma jaracuçu se esguiava assustada, fugindo da minha direção
Enquanto a fumaça do mato queimado era o que restava da boa plantação
O urubu me encarava sob a carcaça do boi morto, reconhecendo a competição
entre nós o cheiro da carne apodrecida a céu aberto,
igual miragem no deserto,
era pura alucinação
O caminho do rio sem alma
mais seco a cada sol ficava
mais morto a cada passo que eu dava
Sob meus pés então abriu-se um poço
que me engolia até o pescoço
me retorcendo cada osso
Mas a dor é algo que desconheço,
logo ao fundo do poço eu desço
lá só havia escuridão, só existia a saudade
dos tempos de homem-aluvião.