Escrevo para dar forma ao caos que me habita, escrevo para mudar a forma do caos que eu habito, enquanto o meu habitar dá forma ao caos que me escreve.
segunda-feira, 13 de julho de 2020
Prelúdio depois do fim do mundo
Após tanto tempo, todos acharam que ele esgotara. Abriram milhões de valas, milhares de árvores plantadas, Maria dos Buracos não se atrasa. João, na sala do odontologista, retira o amarelo das facas e o vermelho da retina. Amor e guerra não se tardam, sangue se misturando em corpos fechados, sangue correndo em campos abertos. Vento de agosto, ar abafado, o insustentável. Árvores secas bailam em queda, alastrando o fogo da miséria. Que agora chega, sem pedir licença, nas portas das casas, condomínios, nos bolsos, na dispensa. Abriram buracos, e o fogo se alastra, depositaram sacrifícios, só que a semente ainda não vingara. Mas a palavra presa, agora está liberta, corre com os rios, ainda não se tornou pedra; e no fundo do poço, dos tantos buracos de Maria, encontrou água limpa: enfim ela grita.
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