Eu queria poder escrever
algo que fosse como uma faca
ou uma foice
e me matasse de uma vez só
ceifasse sem dó
cada grito
cada lamento
cada sapato perdido
pelos caminhos tortos
uma escrita que desse paz
a tantos mortos
que me habitam
Uma escrita
com letra
que rompesse a terra
permitisse o galho
a folha, flor
a fruta
A escrita fora da raíz
da tumba
da escuridão
A palavra que não é só
silêncio
Queria escrever
como quem derrama
uma bebida de porre
aquilo que já não cabe
num gole
uma escrita que me permita
a embriaguez
a tolice
A escrita que me poupasse
o fígado
e o estômago
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